O legado de um Mestre

Sem querer criar comparações de valor entre as formas de abordagem da "Toca do coelho"¹ entre narrativas ocidentais e orientais, mas os filmes do Miyazaki sempre elevaram à enésima potência a explosão criativa e a diversidade de camadas desses mundos que estão além da nossa compreensão da realidade.

Também não é minha intenção criticar como a animação 2D clássica parece² ter sido superada nas produções do ocidente, mas temos longas como "O Menino e a Garça" que investem na mesma técnica sem que isso prejudique sua capacidade de encantar qualquer espectador, o que me intriga: como essas animações permanecem tão relevantes e são, praticamente, imunes à rejeição do "old school" que é esperada do público. 

Um dos primeiros pôsteres lançados
para divulgação do filme.
Crédito: Wikimedia Commons

Quem sabe a resposta está no fato de que mais um filme do estúdio Ghibli não é só "mais um filme" do estúdio Ghibli bem como esse não é só mais um filme do Hayao Miyazaki, mas talvez uma despedida de um dos mais incríveis mestres da animação mundial de todos os tempos. E não é dizer da boca pra fora pois o longa também trabalha, dentro do seu simbolismo, o encerramento de um ciclo e o início de uma nova era, por meio do personagem do Tio-Avô, que é a "entidade máxima" do universo do filme, e que lega ao protagonista o dever de dar continuidade a tudo o que ele criou.

Paralelamente, existe uma trama linda sobre morte, luto, amor e tempo, elementos que se entrelaçam todos de uma vez e fica difícil diferenciá-los, pois como que de forma simultânea o luto de Mahito pela morte da mãe (tomada pelo fogo em um incêndio) se transforma no amor que ele reencontra ao conhecê-la jovem e etérea dentro daquele "mundo inferior" que desconhece as impossibilidades do tempo como agente no "mundo real". É uma história com fluxo próprio, que vai descamando seus mistérios conforme se desenvolve e é cheia de significados que só alguém experiente e que tem muito pra contar sobre a vida poderia preencher.

Pessoalmente, a cena que mais me impactou foi aquela em que os warawara ascendem aos céus porque nascerão no mundo real e Himi (versão jovem da mãe de Mahito que, aqui, manuseia o fogo) incendeia os pelicanos que os devoram porque não há nada que eles possam comer nesse mundo, nem mesmo os peixes, que por sua vez são ingeridos pelos warawara para que possam voar e se tornarem humanos.

Demais personagens, como a Kiriko (em sua versão mais jovem, no mundo inferior), a Natsuko e até mesmo o Homem-Garça/Garça Real são quase um mistério porque muito pouco sabemos deles além da função que desempenham na história, ou pelo menos eu tive dificuldade em assimilar suas personalidades. O Homem-Garça, por exemplo, é um personagem que guia Mahito até a "Toca do coelho", ou seja, o chama até o mundo inferior pela passagem da torre, mas não é, necessariamente, alguém bom ou mau, suas intenções são sempre dúbias. Algo parecido se vê com o Rei dos Periquitos, que não é o que se pode denominar como vilão tradicional, porque sua preocupação é a de manter a ordem das coisas (sustentar a existência daquele universo), mesmo que lidere o exército implicante de periquitos.

É uma animação que mesmo se eu assistisse um zilhão de vezes eu sairia de cada sessão carregando muito mais perguntas do que respostas e com um balanço de emoções sempre diverso devido às diferentes interpretações que conseguimos tirar das nossas histórias favoritas ao longo da vida.

O título original do filme é "Como Você Vive?", como o de um livro de mesmo nome, que é especial ao Miyazaki e que aparece no filme, na pilha no quarto do Mahito. Não posso deduzir com um único pingo de confiança qual foi o principal motivo dele ter feito essa escolha, mas na minha imaginação eu enxergo uma indagação às nossas vidas, nesse e nos outros mundos, sem que seja possível eternizar qualquer existência, mas observar com carinho a nossa própria jornada e a de quem a gente gosta também.

(Por favor, que esse não seja o último filme do Hayao Miyazaki)

Ficha Técnica

Título: Kimitachi wa Do Ikiru ka (Japonês/Japão); O Menino e a Garça (Português/Brasil)

País de origem: Japão

Direção: Hayao Miyazaki

Ano de lançamento: 2023

Referências

¹A "toca do coelho" faz referência ao livro Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, em que a protagonista é levada para um mundo alternativo ao seguir um coelho que a conduz a um portal secreto (a toca, o buraco) de acesso a esse mundo. É um termo de fácil uso para identificar narrativas que utilizam esse tipo de estrutura.

²Vide a predominância da animação em CGI no ocidente desde o fim dos anos 90. No entanto, nos últimos indicados ao Oscar de melhor animação (2024), em que O Menino e a Garça também concorreu, pelo menos 4 dos 5 têm elementos 2D.

"Amor, Sublime Amor" é muito mais do que eu esperava...

O que eu gosto sobre as adaptações de Romeu e Julieta é que elas provam que o texto nunca se torna ultrapassado, no sentido em que é sempre muito bem utilizado.

Na releitura de 1996, "Romeu + Julieta" (dir. Baz Luhrmann), uma das minhas adaptações favoritas, a história já ganhava um pano de fundo urbano, violento e tomado pelo "estrangeiro", apesar da festança colorida, quente e delirante de referências estéticas. Mas essa versão é 30 anos mais velha que Amor, Sublime Amor.

Uma das versões estadunidenses de pôster 
para o filme. Crédito: CineMaterial

Foi uma surpresa me deparar com um filme, adaptado diretamente do musical da Broadway de mesmo nome, que por sua vez utiliza a peça clássica de Shakespeare para discutir tópicos "borbulhantes" da sociedade estadunidense no século 20 (e que seguem sem solução), sem conexão alguma com a Verona do século 14, como faz o longa de '96, mas ainda assim se integram ao enredo de forma brilhante.

Aqui, o conflito entre os Sharks (Capuletos) e Jets (Montéquios) é muito mais uma denúncia do racismo e da corrupção do sistema policial, do que uma rivalidade banal entre gangues adolescentes.

Imigrantes porto-riquenhos, os Sharks são constantemente provocados pelos Jets, americanos médios suburbanos de descendência polonesa, de famílias também imigrantes, que crescem em núcleos familiares problemáticos e negligentes (são inúmeras as menções a problemas com álcool, drogas e prostituição), mas que usam e abusam dos seus privilégios como cidadãos brancos. Isto é mais notável diante do posicionamento do policial, que distribui falas racistas ao longo do filme e declara total apoio à gangue dos Jets, apesar de sua responsabilidade como pacificador do conflito.

"É um país livre e eu não tenho o direito, mas tenho um distintivo. E o que você tem?"

Este ensaio em vídeo aborda melhor o assunto: youtu.be/ZEieSfdIO_0

Daí, o romance dos protagonistas (interpretados por Natalie Wood e Richard Beymer) é deixado para as cenas musicais convencerem o espectador do carisma do casal. O ápice dramático da história, que é a morte atrapalhada de Romeu e Julieta, é dispensado e o desfecho do romance leva uma abordagem mais direta e dura: o assassinato, a tiro, no lugar do suicídio.

A adição da personagem Anita (Rita Moreno), par romântico do líder dos Sharks e irmão de Maria, como equivalente à ama e confidente de Julieta, agregou mais valor ao núcleo porto-riquenho e ao debate, entre os próprios personagens, sobre as vantagens e as desvantagens de ser um latino morando na costa oeste dos Estados Unidos.

O filme é todo lindo de se ver e ouvir, sequências coreografadas e trilha sonora maravilhosas, sem esquecer de mencionar os figurinos, desde os vestidinhos pomposos às calças apertadas (se o sistema não é justo, pode apostar que as calças desse pessoal o são!). O longa foi considerado um "patrimônio cinematográfico" e selecionado para preservação pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos¹.

Tô mega curiosa para assistir a versão do Spielberg.

Ficha técnica

Título: West Side Story (Inglês/EUA); Amor, Sublime Amor (Português/Brasil)

País de origem: Estados Unidos

Direção: Robert Wise, Jerome Robbins

Ano de lançamento: 1961

Fontes

¹ A Biblioteca do Congresso estadunidense seleciona obras para preservação, memória e pesquisa da sua cadeia cinematográfica. Lista completa do Registro Nacional de Filmes pública dos Estados Unidos: https://www.loc.gov/programs/national-film-preservation-board/film-registry/complete-national-film-registry-listing/

Um prestígio deixado ao fim do Brasil cafeeiro: A Falência

(12/09/2023)

Apesar de centrado no drama familiar, "A Falência" traça um panorama fiel dos tempos áureos do café no Brasil recém-proclamado república, e o impulso econômico que trouxe a comerciantes comuns, como o protagonista do livro, Francisco Teodoro, português dono de um armazém de café, enriquecido pelo boom da comercialização do grão: casou-se, portanto, com uma moça de boa família, Camila, mas cujas finanças da família tinham-se ruído após a morte do pai, e com ela constitui uma família nuclear de quatro filhos, cada qual com suas peculiaridades e dilemas, garantindo uma vida estável no Rio de Janeiro do final do século XIX.

"Os armazéns, pelas bocas negras das suas portas escancaradas, vomitavam ainda sacas e sacas de café, que as locomotoras e as carroças levavam com fragor de rodas e cascalhar de ferragens para os lados da Prainha e da Saúde, levantando do solo esmagado camadas de pó, que espalhavam no ar cintilação de ouro."

Como é característico de um romance naturalista-realista, os personagens são constantemente confrontados com a própria hipocrisia e futilidade, frutos de seu tempo e de seu meio, e expostos em situações e diálogos que centram a crítica e o olhar analítico de Júlia Lopes de Almeida, que chega a alçar suas personagens femininas a posições autoconscientes de seus papéis como mulheres e da sua própria representação à época: "Mila", amante do Doutor Gervásio, amigo íntimo da família, até mesmo diz que não quer saber de histórias de romance e adultério onde a protagonista feminina, e somente ela, recebe uma punição - muitas vezes trágica (o romance "Anna Karênina", de Tolstói, é citado aqui).

Além de outros temas, o livro é uma ótima recomendação para inteirar-se um pouco neste Brasil histórico, controverso, que nos lega o registro de problemas que mudam de forma, mas não de conteúdo.

Edição do selo Penguin Clássicos 
para o livro de Júlia Lopes de Almeida.

Este texto foi originalmente publicado no meu perfil do Skoob, justificado o tamanho. Para trazer para cá, gostaria de acrescentar algumas informações (e parágrafos a mais) que acho relevantes sobre a autora e o livro. A Júlia Lopes de Almeida foi muito importante para o seu tempo, mas seu nome ficou recluso aos nichos literários e acadêmicos, e raramente é lembrada ao lado das grandes escritoras mulheres, quem dirá dos maiores escritores brasileiros. Ela ajudou a fundar a Academia Brasileira de Letras (ABL)¹, e, apesar de ter sido inicialmente sugerida para ocupar a cadeira três, jamais chegou a se tornar uma imortal das letras porque, naquele momento inicial da criação da instituição, eles não aceitariam mulheres, seguindo o modelo clássico francês.

À frente de seu tempo, Júlia foi responsável pela edição da revista "A Violeta", periódico que publicava textos sobre temas como literatura, saúde, sociedade, política, e a defesa da escolarização e profissionalização do sexo feminino; todos escritos exclusivamente por mulheres².

"A Falência" é a sua obra mais influente e reacendida, vez ou outra, pela sua presença em listas obrigatórias de vestibulares³, quando as editoras se animam em publicar reedições econômicas. Ou seja, talvez Júlia Lopes de Almeida passe batido ao percorrer, de anos em anos, salas de aula ou cadernos de prova, e permaneça esmiuçada perto dos seus contemporâneos ilustres, como Machado de Assis e Raul Pompeia, ou completamente desconhecida pelos amantes do pódio feminino de escritoras essenciais da literatura brasileira, Lygia, Clarice, Cecília, Hilda; o que é um fragmento perdido da nossa memória cultural-literata. 

Ficha técnica

Título: A Falência

Autor (a): Júlia Lopes de Almeida

Idioma e país de origem: Português/Brasil

Ano de publicação: 1901

Fontes e referências

¹A participação de Júlia Lopes de Almeida na fundação da ABL é citada no pequeno texto biográfico da autora na edição do livro que tenho, mas é possível encontrar mais informações por toda a internet. Este texto do site Blogueiras Feministas fala sobre e é interessantíssimo: https://blogueirasfeministas.com/2013/03/26/julia-lopes-de-almeida-uma-mulher-que-a-patria-desconhece/

²A quem interessar, há um artigo publicado pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) que fala sobre a revista: https://periodicoscientificos.ufmt.br/territoriosefronteiras/index.php/v03n02/article/view/85

³O livro fez parte da lista obrigatória de leitura do vestibular da FUVEST 2022, prova de ingresso da USP, e em 2024 está presente nas listas da UFPR e UFRGS, dentre outras.

Eu reassisti "Bonequinha de Luxo"...

Este foi um dos primeiros "clássicos" clássicos que eu lembro de ter assistido por conta daquela curiosidade acerca da figura da Audrey Hepburn, e não podia ter saído menos encantada com o filme. Agora, ao reassistir, tive a impressão de que ele é muito mais simples do que eu pensei ter achado anos atrás, mas é bem feito e uma delícia de ver e rever.

Pôster alemão para o relançamento do filme.
Crédito: CineMaterial

Cada ponto da trama se complementa e ajuda a história a se rechear de sentido e motivação. Holly (Audrey Hepburn), acompanhante de luxo, inevitavelmente se apaixona por um gigolô escritor, Paul (George Peppard), mas sua ambição é se casar com um homem rico que banque uma vida confortável e pomposa. Que azar.

Ela toma seu café da manhã em frente às joalherias Tiffany sonhando em, um dia, ter a condição de poder desembolsar uma peça, e seu "amigo" (Peppard) resolve gravar as iniciais dos dois na loja com um anel de brinde de caixa de biscoitos. De uma delicadeza que, infelizmente, não diminui o tormento de assistir essa atração mútua que não se concretiza.

O gatinho laranja que mora em seu apartamento sequer recebe um nome, apesar de ser seu companheiro diário; e ela o despacha do táxi no fim do filme, no clímax da emoção de seu texto, para provar de uma vez por todas que não está atrelada a nada e a ninguém. E é quando brilha a passagem de Paul: 

"Você se considera um espírito livre, uma “coisa selvagem” e fica apavorada que alguém a coloque em uma gaiola. Bem, querida, você já está naquela jaula. [...] Porque não importa para onde você corra, você só acaba fugindo de si mesma". Pronto, um giro completo da evolução da personagem.

Texto que só ganha uma dimensão maior porque conhecemos a história de Lula Maye, a vida de Holly antes de chegar à Nova Iorque. E é bem conveniente que Paul seja o intermediador dessa revelação, porque ele será o principal apoio de Holly e quem enche de compreensão seus momentos difíceis quando eles emergem. Há ainda mais detalhes, mas o ponto é que a história é tecida com essas pontes entre personagens e situações que soam muito carismáticas e conquistadoras para qualquer público.

Lindo filme. Audrey Hepburn uma genuína estrela do cinema, inapagável e potente em qualquer época.

Ficha técnica

Título: Breakfast at Tiffany's (Inglês/Estados Unidos); Bonequinha de Luxo (Português/Brasil)

País de origem: Brasil

Direção: Blake Edwards

Ano de Lançamento: 1961

Review of "Midnights (3am Edition)" by Taylor Swift

It always takes me some time to really deep dive into a Taylor Swift’s album after its release and get to really like it, so with Midnights wasn’t different. When I first listened to it, I remember thinking that it looked like a bunch of “Vault” songs of 1989 and Lover, with the refined lyricism touch seen in “folklore” and “evermore”. During my post-sessions of listening it, because I’m an obssessive Taylor’s listener, I got to start admiring more this work, and here’s an ultimate review of this piece - one more “pair-collaboration” between Taylor Swift and Jack Antonoff, mostly.

Lavender Haze

I checked the talents¹ involved in the production and it made a lot of sense the “groove” feeling I felt in here. Really good and pleasant production, don’t know why she didn’t keep it ‘till the rest of the disco. I don’t think it’s an enigma what Taylor sang about here, because she’s clearly taking notes on how public gaze (specially the media) is making the hell out of her relationship and how they expect her to act by the social conducts, like getting a marriage soon.

“I’m damned if I do give a damn what people say”,

she says, disappearing into this “lavender” “haze” (God knows what kind of haze she’s talking here) where she can’t see or listen to what they’re saying about them.

“Talk your talk and go viral”.

Maroon

Oh, this is an interesting one. I didn’t paid much attention at this song in the first times I listened, but now I see how insanely good this lyrics are, my God. Once again we have Taylor relating sensations with colors (well, she has an entire album called 'Red', and another verses where she does that) but I take the risk to assume that this is the best of all she has ever made.

"The mark they saw on my collarbone/ The rust that grew between telephones/ The lips I used to call home/ So scarlet, it was maroon"

It's clearly an "end-of-relationship" song, but you get driven by this fascinating lyrics and when you observe, it's full of nostalgia and breaking-down moments. The production is awesome.

Anti-Hero

Personally, I'd risk to put this one as the best song in the album but the fifth track always comes to my mind and I feel it's unfair, but honestly, Anti-Hero is one of the best things she has ever made, and even herself told this². Although is a well-relatably song for general listeners (including me), it gets so interesting if you analyses by the perspective of a global popstar: well, she's Taylor Swift, but she still feels like us, mere mortals, just like that? C'mon! That's what I like the most about the song, no one is free of self-depreciation.

"I should not be left to my own devices/ They come with prices and vices"

That's so deep. Like I said, no one, even a north american billionaire, is safe from the inevitable life consequence of staring directly at the sun, but never in the mirror.

Snow At The Beach (ft. Lana Del Rey)

I affectively called them (Lana, Jack and Taylor) "The Golden Trio", because they really look like good and talented friends doing stuff together. And this instrumental just reminded me of Harry Potter's soundtrack, as if they were throwing snow on each other, with the bit difference Hogsmeade is not a beach. I feel like I have to credit Lana's work on the lyrics here since she's mentioned in the credits, but it is still a very Taylor-alike style of composing. The fun part is that she (Del Rey) doesn't look to take form in the lyrics neither the vocals, but I know there is an alternative version released in some "plus edition" of the album where Lana sings more. I wonder why they make this kind of choices. Very beautiful song.

You're On Your Own, Kid

I have so much to say here, but I don't know if I can. First of all, if we go to the techniques observations, Taylor's voice here sounds more angelical than never, and the whole thing - the production, the melody, the storytelling - is wonderful. I don't really see an selfportrait of her solo trajectory, I feel more like a ficcional narrative, but it still has this bits of real-life, where anyone who hears it can feel delighted with the mirroring the verses brings in association with our own linear paths. So intense, beautiful, reflective. Also,

"From sprinkler splashes to fireplace ashes"

is such a good antithesis game. And she says

"[...] Just to learn that my dreams aren't rare",

I had never stop to put this in words but this is exactly a thing I realized at some point in life and I think that most us of did too, or will, later.

Midnight Rain

We got to the first of the (non so small) list of "weak ones" and that I didn't like and still not like it that much. A skip track. Anyways, is full of "Lavender Haze" subject here, at least for me, because she turns back on talking about her public life and how it affects her relationships, although she's mostly telling us of some failed affair where she seems to be the "villain", or the faultful one.

"My town was a wasteland/ Full of cages, full of fences/ Pageant queens and big pretenders/ But for some, it was paradise"

The voice changer has its most appellant moment here in the album. I don't really like it.

Question...?

This is one that keeps growing for me at each listening. The melody (specially the melody, with its speaking-style) and the production are all amazing. Also, the theme of the song is very interesting to follow, she seems to talk about an affair that in fact didn't happen, but could've, so both of them starts wondering what the other must be doing with its romantic life while they're living their own.

Vigilante Shit

This song cringes me sooooo hard. I can't believe she really did record this, so awful. It sounds like Billie Eilish, but it's Taylor Swift, so it's even more weird.

"Draw the cat eye sharp enough to kill a man"

it's, sincerely, one of the worst lines I've ever read and at the same time it's very Swifty, which is ironic because she can write brilliant things while tends to do this crappy stuff. It seems like "no body, no crime" had a spin-off, or brother from another universe. Well, she didn't make it.

Bejeweled

When I first listened, I remember hating it, or something close to that feeling. Today, I almost adore the song. The lyric is so incisive, sharpy, "cruel", but in a good way, realistic, you know. It's about she "getting out of the cave" and realizing she needs to be noticed, a shower of self-esteem. It's quite like that moment in your life that you revolt against everybody that treats you mean or non-enoughly-well as you deserve, and you start to act confidently until it fades and you get back to that deep-end status again, accepting all of those people back. Haha, I don't think this is the route she was taking, but the fact is:

"Didn't notice you walking all over my peace of mind/ In the shoes I gave you as a present",

SO GOOD. And also:

"Familiarity breeds contempt, don't put me in the basement/ When I want the penthouse of your heart"

it brought me really deep reflections, wow. The production is funny, but in a good way, the synthesizer is so cool in here.

Labyrinth

The production reminds me of Lorde's Melodrama tracks, which were produced by... Antonoff. Okay, I don't want to bring the recycling allegations, but from this point of the album you'll see that Jack is getting a little exhausted, because songs will get too similar. I have nothing left to say about this song, it didn't catch me, but I find it good.

Karma

I swear, I got so angry with this song for so much time. I though that after "ME!" and "I Forgot That You Existed" she couldn't record any more worse songs, but I was wrong, wasn't I? You can say that this is a funny pop song, and the way the theme is explored by the lyrics is also creative, but I don't really buy into that. I could vibe with it in a party, or even in her show, but please, skip this out of my audio streaming.

Sweet Nothing

Good news, I love that one! The piano line seems so "naive" and by that I mean beautifully pure, as the whole song: melancholic and pretty. Again, I relate it to the Lavender Haze type of sadness and blow off steam.

"Industry disruptors and soul deconstructors/ And smooth-talking hucksters out-glad-handing each other/ And the voices that implore, you should be doing more/ To you I can admit that I'm just too soft for all of it"

Mastermind

Track 13, where she's clearly talking about herself and how she's a very good strategy player in life. Personally, I do believe in that. Okay, she's talking about romantic relationships, so let's take a look on that:

"You see, all the wisest women had to do it this way/ 'Cause we were born to be the pawn in every lover's game"

I see Taylor as a genuinely spokesperson of womanhood so I trust every single line of the woman experience spectrum she brings up. Also,

"Strategy sets the scene for the tale/ I'm the wind in our free-flowing sails/ And the liquor in our cocktails"

the way she talks here about how she's the lead conductor of the relationship is very interesting. I think the bridge is kinda cringe, but the whole song is very good, can't deny it. It caught my attention.

From here, it's the songs included on the "3am Edition", released three hours later of the official release of the album. Don't ask me why, because I don't understand these marketing things and even less Taylor's mind. The reason it's the "3am Edition" and not the "'Til Dawn Edition" in this review is because the second one doesn't have new songs, only alternative versions (including more Lana Del Rey) which doesn't interest me.

3am Edition Additional Tracks

The Great War

It doesn't really touches me. The lyrics are very good, however. The bridge is my favorite part. I find the production not very neat, and it's the first time Aaron Dessner (who collaborated in the two previous albuns) appears as producer here.

Bigger Than The Whole Sky

She seems to talk about a very profound and sorrowful lost here.

"Every single thing I touch becomes sick with sadness"

is not an usual verse for someone to write, so I guess she had been through some bad experience that leaded her to transport such hurtful thoughts into this composing.

"Did some force take you because I didn't pray?" is so destroying.

Paris

Whoah! Did someone miss Love Story's Taylor? Because she's alive! Her romantic idealizations are all here lying down over this song, and if it wouldn't so Swift-classical I would be depressed of such embarassment. Sometimes, even I doubt how I listen to her so much.

"I wanna brainwash you into loving me forever", okay, okay...

"[...] Confess my truth in swooping sloping cursive letters",

she looks so like her teenage-self who wrote that Romeo and Juliet anthem back in 2000's.

High Infidelity

I said that my first impressions of Midnights was that it seemed like a "Vault" songs sequence of 1989 and Lover, but here we got one took out right of "folklore" or "evermore". Just kidding, but I don't know why, of all the others, this reminds me a lot of the "folklevermore" style of composing. Maybe is the storytelling, the fictional narrative, it's all there.

"You know there's many different ways that you can kill the one you love/ The slowest way is never loving them enough"

wow, it hits hard right where it should. However, it's VERY SIMILAR to "Question...?", but it was produced by Dessner (too), so I guess I'll have to blame Taylor.

Glitch

Really like this one! The melody is very nice and catchy, and the whole production is good too. Nothing more to say.

Would've, Could've, Should've

Well, I don't see how we can explore many interpretations of this song, it's so clear what've been said. I find interesting how Taylor puts religious references (in a discreet way) considering the theme (an age-gap relationship), you can see it in how she claims "God" various times or when she mentions "faith", the "devil" (as the one she loved) and how she used to pray, and not less important, how she would've "stayed on her knees". The bridge hits so hard when she sings:

"Living for the thrill of hitting you where it hurts",

showing her wish to see the other part realizes its mistakes, and then

"Give me back my girlhood, it was mine first",

that is so powerful. But, I can't left without saying how this one is so creepy similar to "The Great War", it makes me mess both of the songs in my head although I only use to listen to one of them. This really piss me off.

Dear Reader

I see a clearly "RnB" influence in the production, which surprised me with being divided only by Swift and Antonoff. It reminds me of Maroon, and I don't have to explain again how this triggers me. Not really interested in this song, and I think I heard it like two or three times since its release.

In general, it's a really good album (taking as a parameter her whole discography), as she has been maturing not only as a musician but as a name of the Industry. Despite the exaggerated "voice changer" use, it has great lyrics throughout the album, not all the time, but in the majority of it. Elegant and consistent production, but it's, of course, not the highest point and some tracks are way too similar.

You can see Taylor works like a machine when it comes to songwriting, but I personally don't support her recording everything she writes. She's filling her discography with "filler songs" in my view, and Midnights is a proof of this, a great album, that could had some four or five songs less.

'Til soon, bye-eye.

Technical file

Year:21th October, 2022

Label: Republic Records

Genre: pop

Production: Taylor Swift, Jack Antonoff, Sounwave, Jahaan Sweet, Keanu Beats, Aaron Dessner

Sources

1. All information about production was taken from here: https://genius.com/albums/Taylor-swift/Midnights-3am-edition

2. "She also gushed over the single by saying, “It’s one of my favorite songs I’ve ever written,”". https://www.elitedaily.com/entertainment/taylor-swift-midnights-anti-hero-lyrics-meaning